O Dia de carnaval na minha aldeia
"dia de entrudo passa tudo"
" é carnaval, ninguém leva a mal"
" dia de entrudo come-se tudo"
Era com grande ansiedade que esperávamos a chegada do Carnaval. Dias antes eu, as minhas irmãs e as moças da aldeia começávamos a fazer os nossos enfeites, não havia o consumismo que há hoje, por isso tínhamos que inventar a nossa fantasia. Para a máscara era muito fácil, bastava encontrar uma renda lá em casa para tapar a cara. Depois arranjávamos umas roupas muito velhas, de modo que não fossem usadas há muito tempo e vestíamo-nos tipo matronas.Para não sermos descobertas, juntávamo-nos todas numa casa, onde nos vestíamos, nos enfeitávamos e saíamos todas ao mesmo tempo em grupo, acompanhadas por um matrão a tocar o pandeiro. Claro que, numa outra casa a azáfama era igual para os rapazes, que se juntavam ao nosso grupo logo de seguida ( o mais giro era a imitação de alguns tolos e tolas lá da terrinha)
Percorríamos a aldeia várias vezes, e aproveitávamos para fazer as mais diversas travessuras ás pessoas que encontrávamos no percurso, tais como atirar farinha, cinza, pintar as pessoas com graxa dos sapatos etc... como ninguém nos conhecia, ou melhor nos identificava facilmente, dava-nos gozo um certo número de liberdades, e até aproveitávamos a ocasião para podermos fazer algumas que andavam recalcadas e de cara destapada não era tarefa fácil (risos)......
À noite dois solteirões faziam os casamentos que, era também um acontecimento interessante, e algo curioso, não havia solteiro e solteira a quem não fosse arranjado um par, e davam sempre um dote ao casal, este dote era sempre de péssimo gosto, tal como a burra coxa do tio Alfredo, ou uma manta velha muito rota para o casalsinho não ter frio, etc.
De Recordar que nessa altura os caretos de Podence ainda não gozavam da popularidade que têm hoje e, como tal, não havia Domingo Gordo ou mesmo Terça de Carnaval que eles , apesar da distância, não viessem à minha aldeia, o que eles faziam com o maior dos prazeres, quem sabe porquê? Claro, para “chocalhar” as raparigas. Que medo, que horror, de notar que as matronas não éramos chocalhadas, respeitinho pela espécie (risos)
Enfim, tempos de saudade