O meu Escano
Hoje apetecia-me dormir uma soneca no meu escano, e porquê hoje.... Porque a minha amigdalite visitou-me e estou com febre. Quando era pequena e ficava doente, já sabia, aquele cantinho do escano, com uma almofadinha e um cobertor, ali estava eu muito sossegadinha, a ver a azáfama da casa de um lado para o outro, e eu dispensada de todas as tarefas caseiras e outras... Por vezes a minha mãe não gostava, preferia que fosse para a cama, lá curava melhor, mas eu, teimosa, não queria e ficava por ali, o meu pai também não gostava que lhe roubasse o cantinho dele, mas como estava doente, tudo me era permitido. Sei que nessa altura a única coisa que conseguia tomar, era o leite muito quente, açucarado e com sabor a canela, já não podia mais com o leite. Na altura o leite não era de pacote, éramos clientes habituais da Srª Albina, todas as manhãs ela mungia as vacas e vendia o leite, sei que quando alguém estava doente em casa, em vez do habitual litro de leite, era litro e meio. A senhora Albina era tão boa pessoa, que não levava dinheiro por esse meio litro a mais, era para que a menina ficasse curada mais depressa.
Vou contar para que servia o meu escano e todos os outros escanos, peça fundamental em toda e qualquer cozinha de trás-os-montes...
Como disse atrás, quando alguém estava doente, podia ocupar aquele delicioso cantinho, estava-se lá tão quentinho..... vou contar, nesse cantinho havia o cinzeiro, local onde todos os dias era colocada a cinza da lareira, como esta por vezes levava umas brasas ainda acesas, começava o rescaldo com a que já estava depositada, assim o braço do escano que ficava encostado ao cinzeiro estava sempre bem quentinho, daí ser o canto da cozinha preferido por toda a gente, mas quando o meu pai estava, o lugar era reservado para ele, e quem quer que fosse que o ocupasse, levantava-se e dava o lugar ao pai.
Quantas vezes o escano era o berço, era no escano que por vezes se nascia e, quem sabe, se por um impulso amoroso e algo apressado não foram lá gerados
Também, muitas vezes, era no escano que se partia em paz deste mundo.
No escano faziam-se muitos negócios, até alguns contratos de casamento eram lá assinados, quando o rapaz ía pedir a mão da sua amada em casamento, ritual que se perdeu com o passar dos tempos, seguidos de uns copos de vinho e de umas assaduras, logo ali á mão de semear para comemorar o acontecimento com comes e bebes bem à maneira transmontana.
Quantos folares não foram amassados nos escanos, tal como fornadas de pão e dormidos (bolos que se faziam por altura da Páscoa) não levantaram ali as sua leveduras, bem ao quentinhos do borralho que de propósito ficava da noite para o dia, protegendo também a dona da casa das manhãs bem frias e geadas se fosse inverno, nada era por acaso. Estava tudo ali à mão.
Na altura da matança do porco, onde se fateava o pão para os chouriços de sangue e para as alheiras, onde se enchiam os salpicões e as linguiças, claro de um lado e do outro do alguidar, lá estavas as mãos laboriosas das mulheres, que com a empuradela de uma “cicha” magra e outra meia gorda, mais batedela de um lado e batedela do outro davam forma aqueles que viriam a fazer as delícias das merendas depois de bem curados, com a lenha de urze que de propósito estava guardada para curar o fumeiro.
Também era no escano, que de uma maneira geral se faziam as refeições, todo o escano tinha uma tábua (mesa) que era só deitar abaixo e a mesa estava posta, e era lá que se reunia a família para tomar as refeições
E onde se faziam muitas vezes os deveres da escola com a orientação da mãe ou de uma irmã ou irmão mais velhos, dum tio ou duma tia, está-se mesmo a ver, pois claro, era no escano
Que saudades eu tenho do escano que havia na minha casa e onde eu muito quentinha curava as minhas maleitas....... o meu escano devia estar zangado comigo, porque só hoje me lembrei dele
Também tenho muitas saudades das histórias que a minha mãe nos contava á volta da lareira e das risadas e boa disposição a que o meu escano assistiu
Ah, e onde se comiam as castanhas e se faziam os bilhózes para jogar ao jogo da arrebunhanha, era no escano......
E há tantos e tantos segredos que os escanos escondem, onde é que as vizinhas cochichavam, onde falavam bem e mal umas das outras......eu não sei onde era, mas desconfio, e onde eram lidas as cartas, umas de amor e outras de desamor, tantas e tantas conversas que os escanos guardam bem guardadinhas e não dizem a ninguém
O que estariamos a dizer?
As poesias da Letinha
Vou contar para que servia o meu escano e todos os outros escanos, peça fundamental em toda e qualquer cozinha de trás-os-montes...
Como disse atrás, quando alguém estava doente, podia ocupar aquele delicioso cantinho, estava-se lá tão quentinho..... vou contar, nesse cantinho havia o cinzeiro, local onde todos os dias era colocada a cinza da lareira, como esta por vezes levava umas brasas ainda acesas, começava o rescaldo com a que já estava depositada, assim o braço do escano que ficava encostado ao cinzeiro estava sempre bem quentinho, daí ser o canto da cozinha preferido por toda a gente, mas quando o meu pai estava, o lugar era reservado para ele, e quem quer que fosse que o ocupasse, levantava-se e dava o lugar ao pai.
Quantas vezes o escano era o berço, era no escano que por vezes se nascia e, quem sabe, se por um impulso amoroso e algo apressado não foram lá gerados
Também, muitas vezes, era no escano que se partia em paz deste mundo.
No escano faziam-se muitos negócios, até alguns contratos de casamento eram lá assinados, quando o rapaz ía pedir a mão da sua amada em casamento, ritual que se perdeu com o passar dos tempos, seguidos de uns copos de vinho e de umas assaduras, logo ali á mão de semear para comemorar o acontecimento com comes e bebes bem à maneira transmontana.
Quantos folares não foram amassados nos escanos, tal como fornadas de pão e dormidos (bolos que se faziam por altura da Páscoa) não levantaram ali as sua leveduras, bem ao quentinhos do borralho que de propósito ficava da noite para o dia, protegendo também a dona da casa das manhãs bem frias e geadas se fosse inverno, nada era por acaso. Estava tudo ali à mão.
Na altura da matança do porco, onde se fateava o pão para os chouriços de sangue e para as alheiras, onde se enchiam os salpicões e as linguiças, claro de um lado e do outro do alguidar, lá estavas as mãos laboriosas das mulheres, que com a empuradela de uma “cicha” magra e outra meia gorda, mais batedela de um lado e batedela do outro davam forma aqueles que viriam a fazer as delícias das merendas depois de bem curados, com a lenha de urze que de propósito estava guardada para curar o fumeiro.
Também era no escano, que de uma maneira geral se faziam as refeições, todo o escano tinha uma tábua (mesa) que era só deitar abaixo e a mesa estava posta, e era lá que se reunia a família para tomar as refeições
E onde se faziam muitas vezes os deveres da escola com a orientação da mãe ou de uma irmã ou irmão mais velhos, dum tio ou duma tia, está-se mesmo a ver, pois claro, era no escano
Que saudades eu tenho do escano que havia na minha casa e onde eu muito quentinha curava as minhas maleitas....... o meu escano devia estar zangado comigo, porque só hoje me lembrei dele
Também tenho muitas saudades das histórias que a minha mãe nos contava á volta da lareira e das risadas e boa disposição a que o meu escano assistiu
Ah, e onde se comiam as castanhas e se faziam os bilhózes para jogar ao jogo da arrebunhanha, era no escano......
E há tantos e tantos segredos que os escanos escondem, onde é que as vizinhas cochichavam, onde falavam bem e mal umas das outras......eu não sei onde era, mas desconfio, e onde eram lidas as cartas, umas de amor e outras de desamor, tantas e tantas conversas que os escanos guardam bem guardadinhas e não dizem a ninguém
O que estariamos a dizer?
As poesias da Letinha